Quem quer ser grande seja pequeno
Dom Odilo: Quando a oração não é atendida
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23.10.2024 - 12:23:00 | 4 minutos de leitura

Lemos no domingo passado, dia
20 de outubro, o trecho singelo
do Evangelho de São Marcos,
no qual dois apóstolos, os irmãos Tiago e João, se aproximam de
Jesus para lhe pedir alguma coisa bem
combinada entre eles. Com muita familiaridade e con!ança, eles pedem
que Jesus lhes garanta antecipadamente
os lugares de honra à esquerda e à direita do trono, quando Ele entrasse em
sua glória (cf. Mc 10,35-45).
O pedido revela o que andava na
cabeça desses dois irmãos: queriam
ter um privilégio muito especial, que
representava grande honra e poder e
uma vida assegurada na companhia do
futuro rei... E revela, também, como
eles olhavam para Jesus e o que pensavam dele: o messias terreno, que logo
venceria os inimigos e tomaria conta
do trono de Davi, restabelecendo as
glórias do passado, a liberdade e a segurança ao seu povo. E eles, os discípulos, seriam participantes desse “projeto
de reinado”, assumindo postos de che-
!a no novo governo...
Certamente, eles não eram os únicos que pensavam assim, quer entre os amigos de Jesus, quer
entre os seus inimigos e perseguidores.
No julgamento de Jesus perante Pilatos
e Herodes e na sua paixão e morte essas
expectativas aparecem claramente.
Diante dessa “oração” dos dois apóstolos pretenciosos, qual é a resposta de
Jesus? Ele responde com compreensão
e paciência: “Vocês não sabem o que estão pedindo”. E lhes pergunta, se seriam
capazes de receber o batismo que Ele
deverá receber e de beber do cálice que
Ele deverá beber. Eles respondem que
sim, mas ainda não sabem o que dizem.
Jesus lhes fala do “batismo de sangue” e
do “cálice amargo” da sua dor, paixão e
morte. Mais tarde, eles também provarão
desse cálice e desse batismo.
Os outros dez apóstolos irritam-se
com os dois e mostram que também
eles ainda não estão compreendendo
nada. Certamente, estavam ambicionando os mesmos postos de privilégio
e não lhes pareceu bem que os dois
tivessem tentado isso sem eles participarem do pedido. Jesus tem mais paciência com seus apóstolos, que ainda
precisam aprender muitas coisas para,
depois, darem ao mundo o testemunho
sobre Jesus, sua missão e sua obra. Eles
o farão mediante a força do Espírito
Santo, que os ajudará a compreender melhor quem é Jesus e qual é sua missão. Eles ainda têm projetos demasiado
humanos, cheios de ambição e desejos
de a!rmação pessoal e privilégios.
Jesus, então, os adverte: se entre
os grandes deste mundo acontece que
alguns oprimem e tiranizam os seus
súditos e buscam privilégios e poder,
“entre vós, porém, não deve ser assim”.
Esta !rme advertência deveria !car
impressa com letras grandes em todas
as páginas de nossa memória, para ser
lembrada a todo instante nas nossas
relações com o próximo. O cristão, em
vez de buscar vantagens e privilégios a
todo custo, deve estar sempre disponível para servir, a exemplo de Jesus.
Também quem exerce a autoridade,
qualquer que ela seja: deve ser exercida
como um serviço. Do contrário, ela se
torna despótica e opressiva.
Jesus não atende ao pedido de Tiago
e João, seus dois queridos discípulos. O
pedido não era movido por reta intenção e não era coisa boa, nem contribuía
para a realização do reino de Deus. Ele
próprio não está à procura das glórias
deste mundo, mas está a serviço de Deus
e da humanidade. E quem quiser participar da glória do seu reinado, deve colocar-se a serviço de Deus e do próximo,
com sinceridade, humildade e desapego
de si mesmo.
Quem quiser ser grande, coloque-se ao serviço de todos. E quem
quiser ser o primeiro, procure o último
lugar. Jesus não veio para ser servido,
mas para servir e entregar a sua vida pela
salvação da humanidade.
Esta re"exão também leva a nos
perguntarmos sobre o exercício da religiosidade: ela está voltada ao reconhecimento de Deus e à sua glória, ou, acima
de tudo, à nossa autopromoção, talvez,
à busca de privilégios e de poder? Essa
pode ser uma grande tentação. Não é
por nada que o primeiro de todos os
mandamentos diz que devemos “amar a
Deus de todo coração, com todo o entendimento e com todas as forças”. Não
cabe entregar a Deus apenas um cantinho do nosso coração e da nossa vida,
reservando sempre o espaço maior para
a a!rmação dos nossos desejos, caprichos e vaidades.
Jesus mostrou, na parábola dos dois
homens que foram ao templo para rezar,
que Deus detesta a oração do soberbo
e pretencioso. Mas atende a oração dos
humildes e sinceramente contritos. No
trecho do Evangelho, sobre o qual re"etimos, Jesus convida à puri!cação das
intenções, desejos e atitudes quando
nos dirigimos a Deus em oração. Nossa oração é sempre, ao mesmo tempo,
um exercício de conversão sincera e de
humildade.
Fonte: https://osaopaulo.org.br/
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